A PSA Peugeot Citroën completou, na última segunda-feira, 15 anos de produção de veículos no Brasil. Em 1º de fevereiro de 2001, o grupo inaugurava oficialmente o Polo Industrial de Porto Real, no Rio de Janeiro, passando a produzir no país veículos das duas marcas. Os dois primeiros modelos produzidos foram o Peugeot 206 e o Citroën Xsara Picasso. Mas será que o grupo tem motivos para comemorar no Brasil?
Nestes 15 anos de operação, o Polo Industrial de Porto Real já fabricou mais de 1,3 milhão de veículos e 1,8 milhão de motores. Atualmente, o completo produz os modelos Peugeot 208 e 2008 e os Citroën C3 e Aircross.
A PSA tem investido de forma consistente na fábrica e em seus produtos. Somente no ano passado, foram lançados o Peugeot 2008 e o Citroën Aircross, atingindo o total combinado de R$ 550 milhões. Ambos os modelos foram desenvolvidos pelo Latin America Tech Center, um dos Centros Mundiais de Pesquisa, Desenvolvimento e Design do Grupo PSA com sede no Brasil. Adicionalmente, também em 2015, a PSA iniciou oficialmente as operações do seu Laboratório de Emissões Veiculares, com um investimento total de quase R$ 30 milhões.
A PSA Peugeot Citroën utiliza na fábrica de Porto Real a sua visão de “Fábrica Excelente”, um projeto de excelência operacional da Direção Industrial para que o dispositivo industrial esteja no melhor nível global.
“Hoje, temos em nossa fábrica processos industriais de excelência, que fazem com que estejamos entre as melhores do Grupo PSA no mundo. Prova disso são os altos índices de satisfação do cliente que temos com os produtos que fabricamos, confirmados por pesquisas e comentários de respeitáveis meios de comunicação”, afirmou Eduardo Chaves, Diretor do Polo Industrial Brasil.
Mas vale a comemoração?
O diretor do polo industrial destacou as qualidades dos processos e da unidade fabril da PSA no Rio, mas, infelizmente, ao mesmo tempo, a Peugeot e a Citroën continuam enfrentando problemas de pós-venda no país, o que, junto com as vendas baixas, colocam o grupo num momento meio delicado no Brasil.
De acordo com a Fenabrave, em 2015, somente contanto automóveis, a Citroën ficou em 11º lugar, com 30.090 unidades emplacadas (1,42% do mercado), atrás da Jeep (10º), que teve 41.791 emplacamentos (1,97%), e a frente da Mitsubishi (12º), com 26.563 (1,25%) unidades emplacadas. A Peugeot ficou num amargo 13º lugar, com 25.097 veículos emplacados (1,18%).
Se olharmos apenas os comerciais leves, a Peugeot continua em 13º, com 1.589 unidades (0,45%), enquanto a Citroën vai para 14º, com 1.443 unidades (0,41%).
Agora, se somarmos automóveis e comerciais leves, temos a Jeep em 10º, com 41.791 veículos emplacados (1,69%); Mitsubishi em 11º, com 41.064 emplacamentos (1,66%), Citroën em 12º, com 31.533 unidades (1,27%); e, finalmente, a Peugeot, em 13º, com 26.686 unidades emplacadas (1,08%).
Se levarmos em consideração que a Jeep é uma marca “nova” no Brasil, com poucos e caros veículos disponíveis, e que a Mitsubishi é forte em comerciais leves e fraca em automóveis se comparada à tradição da PSA, temos Citroën e Peugeot numa situação extremamente desconfortável no mercado nacional.
Ambas as montadoras possuem uma boa safra de veículos, com preços razoáveis, mas não conseguem vender o que poderiam. O pior é que não vejo nenhuma mudança na estratégia das duas, com mais agressividade para retomar mercado, como a Nissan fez (e faz) para ganhar participação, por exemplo. E isso fica claro nas concessionárias, com certo desânimo dos vendedores, conforme pude notar no último final de semana ao conversar com alguns deles em revendas da Peugeot e da Citroën.
O pior disso tudo é que o consumidor perde confiança e, aí sim, as vendas despencam.
Em relação à pergunta que fiz acima, sim, o grupo PSA deve comemorar, especialmente porque 15 fabricando por aqui fixa um pilar de que as marcas nunca mais sairão do Brasil (assim esperamos). Mas o grupo deve, principalmente, ter a consciência de que precisa melhorar, e muito, para não ficar para trás, como tem acontecido.
E, conforme bem lembrado pelo Luciano, abaixo, nos comentários, o primeiro passo da PSA deveria ser investir em pós-venda, melhorando o atendimento, os preços e a disponibilidade de peças. Já que a Citroën e a Peugeot não são agressivas, é melhor fidelizar os clientes atuais, criando uma base sólida para, então, crescer. E a melhor maneira para se fazer isso é com um excelente trabalho de pós-venda.
Ficha Técnica Polo Industrial Brasil, em Porto Real – RJ
Veículos produzidos:
- Peugeot 208 e 2008
- Citroën C3 e Aircross
Motores produzidos (na Fábrica de Motores – inaugurada em março de 2002):
- 1.4 flex e gasolina (para exportação)
- 1.5 flex e gasolina (para exportação)
- 1.6 flex e gasolina (para exportação)
Peças usinadas (na Unidade de Usinagem de Motores – inaugurada em julho de 2009):
- Blocos de ferro fundido para motores
- Cabeçotes de alumínio para motores
Fatos marcantes sobre o Polo Industrial Brasil, em Porto Real:
Janeiro de 1998
Assinatura de acordo com o Governo do Rio de Janeiro referente à construção do Polo Industrial Brasil (PIBR) em Porto Real.
Janeiro de 1999
Pedra Fundamental da fábrica da Peugeot Citroën do Brasil em Porto Real.
Dezembro de 2000
Lançamento industrial do Citroën Xsara Picasso.
1º de fevereiro de 2001
Inauguração do Polo Industrial Brasil.
Abril de 2001
Lançamento industrial do Peugeot 206.
Março de 2002
Inauguração da Fábrica de Motores.
Abril de 2003
Lançamento industrial do Citroën C3.
Novembro de 2004
Lançamento industrial do Peugeot 206 SW.
Junho de 2007
Lançamento industrial do Novo Citroën Xsara Picasso.
Março de 2008
Marca de 500.000 veículos produzidos.
Maio de 2008
Lançamento industrial da linha Peugeot 207 (HB, SW e Passion).
Junho de 2008
Marca de 500.000 motores produzidos.
Julho de 2009
Inauguração da Unidade Industrial de Usinagem.
Maio de 2010
Lançamento industrial da picape Peugeot Hoggar.
Setembro de 2010
Lançamento industrial do Citroën Aircross.
Abril de 2011
Marca de 1 milhão de motores produzidos.
Maio de 2011
Lançamento industrial do Citroën C3 Picasso.
Dezembro de 2011
Lançamento do motor EC5 Flex Start (sem tanquinho)
Agosto de 2012
Lançamento industrial do Novo Citroën C3.
Outubro de 2012
Marca de 1 milhão de veículos produzidos.
Janeiro de 2013
Lançamento industrial do Peugeot 208.
Março de 2015
Lançamento industrial do Peugeot 2008.
Novembro de 2015
Inauguração do Laboratório de Emissões Veiculares.
Novembro de 2015
Lançamento industrial do novo Citroën Aircross.
O problema da Citroën/Peugeot é a fama muito bem construída por eles mesmo de um péssimo pós-atendimento. Porém, em 2012, durante o lançamento da nova linha Citroën C3, o diretor de marketing à época deu uma entrevista admitindo que precisavam reverter esta imagem e que dali em diante tudo seria diferente, que a o grupo PSA investiria forte neste quesito. Eu acreditei, inocente que sou, e comprei um C3 Exclusive topo de linha. Carro lindo, realmente. Bom carro? Seria perfeito, se não fosse aquele ultrapassado câmbio automático de 4 velocidades. Porém, 2 anos depois e com 30 mil km, estoura a correia dentada. Até aí (quase) normal. Defeitos ocorrem. Levo na concessionária e me prometem o carro de volta em até 30 dias. Passado o prazo, nada. Mais uma semana, nada. Ligo para cobrar e dizem que AINDA estão aguardando peças. Resumindo, DOIS MESES DEPOIS vou retirar o carro e, quando ligo, motor escandalosamente batendo! Queriam me devolver o carro em estado lastimável! Me recusei a ficar com ele daquele jeito, então fiquei mais 30 dias a pé, até que a Citroën resolveu trocar o motor. Foram 90 dias sem carro! E a Citroën nem sequer aceitou oferecer um carro reserva! Nada! E depois disso, demoraram mais 6 meses para regularizar a documentação do carro! Há, mas o seu caso é isolado, diriam alguns. Não! A cada visita na concessionária, o atendente me contava histórias de vários outros carros na mesma situação! E não eram poucos! Foi a pior experiência como consumidor em toda a minha vida! Vendi o carro tão logo o peguei de volta, e uma coisa eu, meus amigos e familiares sabemos: PSA nunca mais.
Que situação desagradável, Luciano. Uma pena mesmo… Depois do seu comentário, achei importante acrescentar algo de pós-venda no texto.
Luciano, compreendo sua insatisfação com o atendimento e descaso da Citroën no seu caso específico. Também concordo parcialmente sobre o fato de este não ser apenas um caso isolado da marca. Entretanto, é importante dizer que nenhuma outra marca está livre desse tipo de ocorrência, evidentemente que, algumas com menos reclamações do que outras. Acredito que um dos grandes atrativos dos veículos do grupo PSA, se não o maior deles, é sua relação custo/benefício em comparação aos concorrentes de cada segmento oferecidos pelo mercado, além dos outros quesitos já inseridos no DNA das duas marcas francesas, como design, qualidade no acabamento e oferta de itens de série por um preço relativamente “justo”. Enfim, assim como você ficou insatisfeito com o tratamento que teve na concessionária Citroën, conheço tantos outros que tiveram uma opinião totalmente contrária a sua sobre o atendimento, e que nada têm a reclamar. Assim como amigos e parentes que já tiveram problemas semelhantes aos seus em marcas tidas como os exemplos do bom pós-vendas, como Honda e Toyota. Talvez essas duas últimas marcas citadas são as detentoras do menor número de ocorrências de um mau atendimento, porém, não pense que são santas, assim como Ford, Fiat, VW, Nissan, Audi, Volvo, GM e outras mais que também cometem seus pecados. Abs!