Recentemente, visitei o novo Campo de Provas da Iveco, em Sete Lagoas (MG), numa tarde quente e seca de uma quinta-feira. Lá pude conhecer e andar no blindado Guarani, que a marca desenvolveu em parceria com o Exército Brasileiro. O veículo é fabricado em solo mineiro e mais de 100 unidades já foram entregues às forças armadas. Só posso dizer uma coisa: foi uma experiência inesquecível!
Eu conheci os antigos veículos do Exército, Cascavel e Urutu, em desfiles do Dia da Independência do Brasil, em Sete de Setembro e, em duas oportunidades, pude olhar os veículos mais de perto, mas nunca em muitos detalhes. Mas consegui observá-los o suficiente para perceber que o Guarani é um veículo muito superior, em especial, no conforto dos ocupantes.
Para produzir cada blindado são necessárias cerca de 2.500 horas de trabalho na planta da Iveco. O Guarani é conhecido como uma Viatura Blindada para Transporte de Pessoal (VBTP). Isso significa que o seu objetivo principal é o deslocamento de tropas, não importa a situação.
Capacidade
Com capacidade para transportar até 11 pessoas, sendo nove soldados, o motorista e o comandante, o Guarani pesa 18 toneladas, tem proteção blindada para munição perfurante e incendiária, possui suspensão independente hidropneumática, sistema de freio com disco duplo e ABS, GPS, visão noturna, pode chegar a 100 km/h no asfalto e tem função anfíbia. Além de ar-condicionado, tem sistema automático de detecção e extinção de incêndio e baixas assinaturas térmica e radar (o que dificulta sua localização pelos inimigos), entre outros. A plataforma do blindado poderá ser usada como base para o desenvolvimento e a produção de uma família de blindados em diferentes versões, entre as quais viaturas de reconhecimento, socorro, posto de comando, porta morteiro e ambulância.
Você deve se perguntar: por que ar-condicionado? A resposta é simples e importante. Primeiro, para o conforto dos militares, deixando o interior termicamente agradável. Segundo porque esse dispositivo conta com um sistema de proteção especial da cabine contra ataques químicos, biológicos e nucleares (QBN). Por meio da ventilação forçada, os soldados ficam a salvo dentro do VBTP.
Motor
O Guarani possui um motor Cursor 9 (da FPT Industrial) 8.7 de seis cilindros em linha, turbo, com 1.800 bar (!), e desenvolve 383 cv de potência e 154 kgfm de torque. A transmissão é automática se deis marchas e o blindado tem opções de tração 6×6 e 6×4, alongada e reduzida, e com bloqueio individual para cada eixo, podendo ser acionada de acordo com a necessidade. Na prática, mesmo não parecendo, o veículo tem acelerações rápidas e pode ultrapassar os 100 km/h que comentei acima, o que só não acontece por limitação eletrônica – e segurança.
Com todo esse peso (por causa da blindagem e robustez) e força, o Guarani tem dois taques de combustível com capacidade combinada de 260 litros. O VBTP pode ser abastecido com diesel B5 (95% diesel e 5% biodiesel) ou com querosene de aviação (na proporção de 10% diesel e 90% querosene) – aumenta a versatilidade de abastecimento em caso de escassez de combustível.
Monstro
De perto, o Guarani impressiona pelo tamanho! São 6,91 m de comprimento, 2,70 m de largura e 2,34 m de altura! Só o seu pneu mede cerca de 1,25 m de altura. Para chegar até a cabine, o motorista precisa subir na carroceria do blindado (pode ser pelas laterais, usando o pneu como degrau). Em seguida ele entra pela escotilha que pode ficar aberta, com o condutor ficando com a cabeça para o lado de fora, ou fechada, tornando o veículo mais seguro para os ocupantes.
Na volta que dei no blindado, eu estava sentado como se fosse um soldado, na última fileira de bancos. Fiquei até surpreso com o conforto dos bancos e com a maciez da suspensão do veículo (dentro do possível). O conforto acústico também foi melhor do que o esperado. Eu consegui conversar com os meus colegas de passeio sem a necessidade de berrar.
Anfíbio
Nosso trajeto, com um motorista profissional, foi curto mas abrangente: arrancada e rápida elevação de velocidade, freada, uma curva aberta, uma fechada e, em seguida, um dos momentos mais interessantes e divertidos: atravessamos um poço de água com 4,5 metros de profundidade, abusando do modo anfíbio do Guarani. Repare no vídeo acima: o Guarani abre uma espécie de tampa na dianteira antes de entrar na água – o objetivo é dar mais estabilidade aquática. Veja no vídeo a visão “aérea” do poço e, depois, a visão de dentro do veículo (coloquei o meu braço para fora da escotilha superior para filmar a movimentação do veículo). A velocidade máxima na água é de 9 km/h.
Antes disso, subi, à pé, para esperar pelo Guarani no alto de uma construção que tinha acesso apenas por quatro rampas, sendo que cada uma delas tinha uma inclinação diferente (uma com 12%, uma com 20% e outra com 24%). Nem prestei atenção por qual eu subi, pois eu queria mesmo era ver o blindado “escalando” a rampa mais íngreme, de 60%. Confesso que não achei que o veículo fosse capaz de superar esse obstáculo. Mas, ao tracionar as seis rodas, fazendo uso do 6×6, o motorista injetou toda a força dos 383 cv e 154 kgfm para fazê-lo subir com vigor, chegando a tirar as duas rodas dianteiras do chão (assista acima).
Para fechar, o soldado tem muito mais espaço e conforto do que os dois que citei do início do post. Ele também fica mais seguro, já que o Guarani é fruto de um projeto muito mais recente e aguenta, por exemplo, passar por cima de uma mina terrestre – é o primeiro veículo nacional com esse tipo de proteção (repare na foto acima que os bancos são presos por cima – exatamente para “espalhar” o impacto, protegendo os ocupantes de uma explosão por baixo).
Não há dúvida de que o Guarani é um veículo versátil e adequado para o Exército Brasileiro, que, até a chegada do blindado fabricado em Minas Gerais, sofria com os ultrapassados e sem peças Urutu e Cascavel. Agora é continuar o trabalho de substituição da dupla até que as forças armadas estejam devidamente equipadas para continuar o serviços de manutenção da paz e do bem-estar social.
Por se destinar ao combate, seria interessante um confronto, ao menos virtual, entre o Guarani e outro modelos, de outras forças armadas, que sejam da mesma categoria.
Tem alguns desses aqui no quartel que fica no meu bairro em Cascavel (PR), inclusive os primeiros 13 vieram para cá e um deles capotou entre Toledo e Cascavel no ano passado.
kkkkkk ai eu vi vantagem
Animal