Em dezembro de 2008, um Volkswagen Gol básico novo quatro portas e motor 1.0 custava R$ 32 mil. Em outubro deste ano o preço do mesmo veículo estava em R$ 28 mil. Mesmo que possa também ser atribuída a outros fatores, como aperto da concorrência ou ganho de produtividade, a diferença de quase R$ 4 mil (sem considerar a inflação do período) não seria possível sem a redução do IPI. O tempo mostrou que os efeitos do instrumento usado para socorrer as montadoras no mercado interno sempre foram imediatos, como se o mercado ganhasse musculatura a cada aplicação de nova dose desse “anabolizante”. Agora que o governo anuncia a recomposição gradual do tributo, nos próximos seis meses, o setor prevê que sem tal vitamina as vendas em 2013 serão mais fracas.
Volkswagen/Divulgação |
O reflexo da redução do IPI no aumento de vendas foi ainda mais nítido no segmento de modelos básicos, contemplado, em boa parte das vezes, pela isenção desse imposto. Em novembro de 2008, um mês antes da primeira redução do tributo, que veio amparada, ainda, por facilidades na liberação de crédito nos bancos federais, a venda dos chamados carros de “entrada” ficou em 50 mil unidades, quase a metade das melhores médias do ano.
A partir de então, picos de vendas se destacam em cada um dos meses marcados para o incentivo fiscal terminar, ainda que, na maioria das vezes, ao longo desse tempo, o governo tenha voltado atrás e prorrogado o benefício por mais alguns meses. Na primeira fase do incentivo, que se arrastou do fim de 2008 a março de 2010, os efeitos da corrida dos consumidores às lojas é nítida nos meses em que teoricamente o benefício seria suspendido: março de 2009 (84,8 mil populares vendidos), junho do mesmo ano (91,8 mil) e março de 2010, o pico final da primeira fase, com 101,3 carros desse segmento, o dobro da véspera da crise.
Depois de mais de um ano inteiro de benefício prorrogado – entre dezembro de 2008 e março de 2010 – o mercado brasileiro conseguiu, em 2011, uma expansão de 3,35% sem a necessidade do anabolizante. Mas reduzir o IPI foi, de novo, a solução encontrada pelo governo em 2012, quando o mercado interno começou a dar sinais de desaquecimento. Paralelamente, as taxas de juros também começaram a recuar, o que facilitou as vendas financiadas. O benefício teria validade até agosto. Foi, no entanto, renovado duas vezes.
“Teríamos amargado um ano muito difícil, como o resto da indústria de transformação, não fosse o IPI reduzido”, destaca o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave), Flávio Meneghetti.
Em agosto, mês inicialmente marcado como o último do benefício, foi registrado novo recorde de vendas de carros populares no país. Foram licenciadas 114,8 mil unidades, o que equivale dizer que hoje o que se vende só de carros 1.0 no Brasil num mês “turbinado” equivale ao mercado total mensal da Coreia do Sul. E sem nenhum “aditivo” – ou incentivo – somente desse segmento vende-se no país mais do que na Austrália ou México, segundo dados da Jato Dynamics, consultoria especializado no setor.
O quadro começou a expor um novo cenário do país. Consumidores que antes compravam carros usados como um primeiro veículo migraram para o modelo novo. Ao mesmo tempo, esse crescimento no número de compradores de veículos zero-quilômetro também elevou o índice de inadimplência nesse setor.
Para Meneghetti, os altos índices de inadimplência ainda são reflexo de contratos antigos. Além da facilidade na liberação do crédito, em 2009 e 2010 as instituições aprovavam financiamentos mais longos, de até 60 meses e sem entrada. “Esse pessoal ainda está no meio do caminho do pagamento do carro, mas nos novos contratos, os índices de inadimplência são mais baixos”, afirma.
Meneghetti diz que, ao perceber que o governo estava mesmo disposto a desta vez não mais prorrogar a redução do IPI, a direção da Fenabrave pediu ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que a volta do tributo fosse feita de forma gradual. “O mercado pararia se os preços subissem de uma vez logo no início do ano quando as vendas costumam ser fracas por efeito de dívidas de férias e início de gastos com vários tributos e escolas.”
No caso do carro com motor 1.0, o imposto sobe de zero para 2,0% em janeiro, 3,5% em abril e para os 7% originais em julho. Para Meneghetti, 2013 será um ano difícil, com muitas promoções nas concessionárias e muita concorrência, principalmente em razão da chegada de novas marcas.
Muitas vendas foram mesmo concluídas, na virada do ano. O coordenado financeiro Rodrigo Orosco diz ter se “apertado” para poder comprar um Space Fox antes de o incentivo terminar. Ele passou o ano juntando economias. Mas não deixou dezembro, último mês do benefício fiscal, passar.
Texto: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico
Link: Fazenda.gov
Nota do editor
Para os carros com motores flex de 1.000 a 2.000 cilindradas, a alíquota passará dos atuais 5,5% para 7% no primeiro trimestre de 2013 e chegará a 9% no trimestre seguinte. A partir de julho o IPI volta aos 11% original. Já os automóveis com propulsores a gasolina passarão de 6,5% para 8% até março e para 10% até junho, chegando a 13% a partir de julho.
A matéria ficou incompleta, ou não ficou bem clara…
E para os carros acima de 1.0 ? O cancelamento da redução será escalonado também?
Grato,
Luiz Castro
Olá Luiz.
Já complementei a informação. Obrigado pelo aviso!
Um abraço!