O difícil ano de 2016 acaba com incertezas sobre o futuro e a velha política se sobrepondo ao ambiente econômico. Ao olhar agora para trás é fácil concluir que houve otimismo em excesso, intervencionismo exagerado e pouca avaliação sobre o futuro. Esse ambiente, ou melhor, caldo de cultura levou aos equívocos do Inovar-Auto em 2012 ao prever vendas de no mínimo 4,5 milhões de unidades em 2016/2017, incluídos veículos leves e pesados.
Aquele programa errou na dose em relação aos estímulos fiscais, embora acertasse ao induzir o rápido progresso na diminuição do consumo de combustíveis dos carros. Tudo indica que ao final de 2017 as exigências em relação à eficiência energética serão reforçadas como devem. Deixou um flanco aberto sobre itens de segurança.
Estes exigem prazos mais dilatados de implantação e estão em ritmo de inovação bem mais acelerado no mundo. Novos recursos de direção semiautônoma, monitoramento de colisões, frenagem automática seriam itens de segurança ativa bem-vindos em uma regulamentação consensual e pragmática do Inovar-Auto II.
Como as coisas não aconteceram conforme se pensava, houve aflição geral em tentar adivinhar quando se chegaria ao fundo do poço. Em janeiro passado os economistas da Anfavea achavam que, em 2016, a produção e as exportações subiriam 0,5% e 8,1%, respectivamente, representando uma ajuda na preservação de empregos. As vendas teriam encolhimento de modestos 7,5%, um alento em relação ao tombaço de 26,6% em 2015 frente a 2014. O ano avançou e a associação dos fabricantes divulgou novas previsões: -5,5%, +21,5% e -19%, respectivamente. Houve reação nas exportações, porém o mercado interno afundou mais.
Mas nem tudo está perdido.
A crise na indústria automobilística – a terceira de grande profundidade em seis décadas de história – deixou lições profundas. Há riscos mesmo em um mercado tão promissor como o Brasil. Épocas de ótima rentabilidade se alternam com as de prejuízos recuperáveis. As dificuldades levaram, por exemplo, a um programa de redução de jornada de trabalho com salários mais baixos em menor proporção bancados por fundos do governo e das empresas. Tanto que foi rebatizado de Seguro Emprego.
Embora a economia tenha enfrentado uma segunda queda consecutiva do PIB (2015 e 2016) – algo não observado no Brasil desde a Grande Depressão mundial de 1930 – o ano termina com algumas referências positivas. A inflação que chegou a quase 11% em 2015, deve ficar, de forma até surpreendente, dentro do teto da meta este ano (6,5%) e no centro da meta em 2017 (4,5%). Vai abrir espaço para queda da taxa básica de juros (Selic) para cerca de 10% até o final do próximo ano e provável aumento de confiança.
Os juros para financiamento de veículos também podem cair, apesar de inadimplência contar mais que Selic. Agricultura deve crescer 15% em 2017, o que garante 0,75 p.p. positivo para o PIB. A frota de veículos envelheceu e mais compradores talvez prefiram comprar um veículo novo a gastar em manutenção.
Anfavea só divulgará suas previsões no começo de janeiro próximo. Esta coluna, contudo, acredita em crescimento de vendas no mercado interno de até 9% em 2017. Hora de virar o jogo.