Primeiro ano em que as novas regras de segurança forçaram o fim de linha de veículos superados – Kombi, Mille e Gol Geração 4 – o fechamento de 2014 deixou executivos da Fiat e da Volkswagen de plantão até o dia 31 de dezembro. É que estava em jogo a liderança de 27 anos do Gol, depois do Fusca o mais bem-sucedido modelo já fabricado no País.
Essa luta de bastidores certamente incluiu a prática do rapel, jargão do setor para licenciamento de carros com efeito estatístico sem venda efetiva, no último mês do ano. Locadoras e outros frotistas também fazem parte de táticas nessa batalha. Por uma diferença de apenas 385 unidades, a soma da dupla Palio e Palio Fire (este defasado de duas gerações e, portanto, com preço bastante atraente) levou a melhor, como já acontecia na maior parte do ano passado. A VW não quis entregar os pontos e tentou no último mês reverter o cenário de forma artificial.
É usual no Brasil a convivência de diferentes gerações do mesmo modelo, como Celta e Classic, mantendo ou não o mesmo nome. Mas, na comparação direta, deve-se pontuar, o Gol Geração 5 vendeu cerca do dobro em relação ao Palio contemporâneo.
Em 2014 pela primeira vez um modelo chinês liderou: por apenas 2 unidades passou o francês C4 Picasso. O Corolla recuperou a liderança entre os médios-compactos.
O ranking da Coluna tradicionalmente agrega hatches e sedãs de mesma família, critério usado com frequência no exterior. Ficam de fora da soma apenas os sedãs “desgarrados’ (sem um hatch-irmão): Cobalt, Grand Siena e City. Classificação é por distância entre eixos, largura e, secundariamente, preço. Tem por base o Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores). Só se citam modelos mais representativos do mercado. Dados compilados por Paulo Garbossa, da ADK.
Compacto: Gol/Voyage, 13%; Onix/Prisma, 12%; Palio/Fire/Siena, 11%; HB20/X/S, 9%; Logan/Sandero, 7%; Fiesta hatch/sedã 6,6%; Uno/Mille, 6%; Fox/CrossFox, 5%; Celta/Classic, 4,5%; Grand Siena, 4%; Etios hatch/sedã, 3,3%; up!, 3%; Ka/Ka+, 2,5%; Cobalt, 2,3%; March/Versa, 2%; Punto/Linea, 1,6%; C3/DS3, (1,45%); 207/208, (1,4%); City, 1,2%; Clio, 1%. Gol, isoladamente, perdeu para dupla Palio/Fire.
Médio-compacto: Corolla, 22%; Civic, 18%; Cruze hatch/sedã, 14%; Focus hatch/sedã, 10%; Golf/Jetta, 9%; Sentra, 5%; C4/Lounge/DS4, (3,7%); Peugeot 308/408, (3,1%); i30/Elantra, 3%; Fluence, 2,9%. Corolla reassumiu a ponta.
Médio-grande: Fusion, 39%; BMW Série 3/4, (24%); Mercedes C/Coupé, 15%; Azera, 6%. Leve avanço do Fusion.
Grande: Mercedes E/CLS, 36%; BMW Série 5/6, (26%); Jaguar XF, 18%. Líder com mais margem.
Topo: Chrysler 300 C, 35%; Classe S, 15%; Panamera, 12%. Preço bom garante.
Monovolume pequeno: Fit, 43%; Spin, 29%; Idea, 13%. Fit ainda em ascensão.
Monovolume médio: J6, (29,7%); C4 Picasso, 29,6%; Mercedes Classe B, 21%. Surpreendente líder.
Picape pequena: Strada, 56%; Saveiro, 31%; Montana, 13%. Strada com grande folga.
Picape média: S10, (30%); Hilux, 26%; Ranger, 14%. S10, atenção.
Crossover: ASX, 48%, Freemont/Journey, 26%; Ranger Rover Evoque, 23%. ASX, tranquilo.
Utilitário esporte compacto: EcoSport, 39%; Duster, 35%; Tracker, 10. EcoSport menos sossegado.
Utilitário esporte médio-compacto: Tucson/ix35, 40%; Sportage, 12%; RAV4, (10%). Líderes incontestes.
Utilitário esporte médio-grande: Hilux SW4, (43%); Santa Fe, 13%; Sorento, 7%. Sem preocupações.
Utilitário esporte grande: Pajero Full/Dakar, 43%; Edge, 18%; Discovery, 11%. Bem consolidado.
Esporte: BMW Z4, (40%); Boxster/Cayman, 23%; Corvette, 10%. Liderança confortável.
RODA VIVA
Anfavea e Fenabrave têm previsões bem próximas para as vendas totais (automóveis e comerciais leves/pesados) em 2015. A primeira espera crescimento zero e a segunda, menos 0,5%. Com o revertério de 2014 (menos 7%, frente a 2013) parece que as assessorias econômicas das duas entidades preferiram a prudência em relação ao otimismo com os números.
Curiosamente, Anfavea prevê este ano a produção – importante para geração de empregos industriais – crescer 4% em razão de novo recuo na participação de modelos importados, que em 2014 encolheu para 17,6% (em 2012 eram 20,7%). As exportações ajudarão pouco nesse cálculo, pois devem subir apenas 1%. A entidade espera que dólar alcance R$ 3,10 no final de 2015, ou seja, uma mididesvalorização.
Números preliminares da consultoria italiana Focus2Move indicam que o Grupo VW assumiu pela primeira vez a liderança mundial em vendas de automóveis e comerciais leves: sua meta era alcançar essa posição apenas em 2018. Foram 100.000 unidades a mais que o Grupo Toyota. Para tanto a VW contou com 190.000 modelos Porsche, muito acima do esperado.