Depois do melhor janeiro da história, as vendas de carros começaram a sentir em fevereiro os efeitos da antecipação de compra dos meses anteriores, além da retirada gradual nos descontos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e das próprias montadoras.
Chevrolet/Divulgação |
De um mês para o outro a média diária de vendas caiu de 13,5 mil para um volume um pouco acima de 12 mil unidades, conforme números preliminares. Ainda falta somar os emplacamentos de ontem, mas estimativas de analistas – baseadas nos licenciamentos registrados até quarta-feira – apontam para um mercado abaixo de 230 mil carros no mês passado, bem menos do que as 297 mil unidades de janeiro e marcando o pior resultado em três anos de estatísticas.
O número também é inferior às 236 mil unidades de fevereiro de 2012, que, em ano bissexto, teve um dia útil a mais de venda. Apesar do efeito calendário, o Carnaval, nessa comparação, não serve de desculpa porque, no ano passado, o evento também aconteceu em fevereiro.
Até quarta-feira, 205,7 mil carros tinham sido emplacados. O balanço final do mês só será divulgado na terça-feira pela Fenabrave, a entidade que representa as concessionárias de veículos, mas a prévia já indica uma desaceleração da indústria após o crescimento de 17,6% em janeiro.
Nas contas de Raphael Galante, analista da Oikonomia, o percentual caiu para algo ao redor de 6% no fechamento do primeiro bimestre. Para ele, as montadoras conseguirão defender o crescimento até maio. Contudo, a partir de junho, a base de comparação começa a ser maior – com vendas mensais superiores a 300 mil carros – e o setor passará a ter mais dificuldade para se manter acima de 2012.
Em agosto, por exemplo, os emplacamentos atingiram o pico de mais de 405 mil automóveis e comerciais leves, no embalo do socorro anunciado pelo governo à indústria automobilística no fim de maio – o que inclui o corte no IPI, de metade até a totalidade das alíquotas.
Hyundai/Divulgação |
Por enquanto, as projeções da indústria e de revendas apontam para uma renovação do recorde de emplacamentos alcançado no ano passado. A Anfavea, que abriga as montadoras instaladas no país, aposta num crescimento de 3,5% a 4,5% do mercado, incluindo na estimativa os caminhões e ônibus. Já a Fenabrave prevê um aumento de 3% nas vendas de automóveis e utilitários leves.
O ano começou muito bem, com as montadoras aproveitando os estoques de carros faturados em dezembro – portanto, ainda com o IPI mais baixo. “Janeiro teve um resultado expressivo, beneficiado pelos carros com o IPI menor e negócios fechados em dezembro, mas com entregas feitas em janeiro, entrando para a estatística do mês”, diz Rodrigo Nishida, analista da LCA.
À medida que esses estoques foram diminuindo, o consumidor começou a se deparar com preços mais altos. Dando início a uma retirada gradual do benefício, o governo subiu o IPI do carro popular (de motorização 1.0) de zero para 2% no primeiro trimestre. No caso dos automóveis com motorização superior a 1.0, até 2.0, a alíquota subiu de 5,5% para 7%.
Paralelamente a isso, as montadoras começaram a retirar descontos que vinham praticando por conta própria ou revisaram suas tabelas em busca de melhores margens de rentabilidade. Por isso, o aumento de preço ao consumidor foi, em muitos casos, superior ao impacto da recomposição do imposto, que também leva a um efeito em cascata sobre os demais tributos incidentes no valor veículo.
Na versão top do compacto Onix, por exemplo, o reajuste nas concessionárias da Chevrolet chegou a 7% na virada do ano. Já o preço público sugerido pela Hyundai para o HB20 está, a depender da versão, de 2,5% a 3,5% acima dos valores praticados quando o modelo começou a ser vendido, há quatro meses.
Reprodução do texto de Eduardo Laguna
Fonte: Valor Econômico